segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Banda paulistana transporta indie pop do Canadá direto para Campinas

Por Paulo Passini Junior

Do jornalismo em posts


Seguindo a recente tradição de ser rota de bandas independentes com destaque na cena musical brasileira, a cidade de Campinas recebeu, neste último sábado, 14 de novembro, no Bar do Zé, os paulistanos do Holger - destaque também em festivais internacionais.

Recém chegados de uma mini-turnê no Canadá, onde tocaram no importante festival Pop Montreal, com nomes internacionais de destaque como Matt and Kim, o grupo tocou sábado a noite no Bar do Zé, para mais de 300 pessoas em um show energético e participativo, que também contou com a presenção da banda campineira Venus Volts.

Confira a apresentação do Holger em Campinas:



Conhecidos pela celebração nos shows, a banda fez o primeiro concerto na região um dia depois de se apresentarem no no Indie Rock Festival, no Rio de Janeiro, junto com os norte-americanos do Gogol Bordello e Super Furry Animals - e além disso, no começo de dezembro tocará em São paulo, com o Dirty Projectors, dos Estados Unidos.

Esse é um ano especial para o "Ursão" - alcunha usada carinhosamente pela banda em alusão ao mascote do grupo. Sendo uma das únicas (se não a única) representantes de peso do Indie Pop no Brasil, a banda foi indicada a dois prêmios no último VMB, da MTV. Com um EP lançado, The Green Valley, com 6 faixas, o grupo formado por Pedro, Arthur, Bernardo, Marcelo e Tché , já tocou em mais de 15 cidades diferentes no último ano, estreou novas músicas em Campinas e concedeu uma entrevista para o Jornalismo em Posts. Confira!



Um dos trabalhos anteriores de vocês era o projeto Thats All Folks – um coletivo folk, country, indiepop, e todas essas denominações sem fim -, mas o som da banda hoje está cada vez mais distante disso, usando muitos elementos eletrônicos e percussão. Para quem ainda não conhece o Holger, fale pra gente da história da banda e os caminhos que vocês estão tomando.

O Holger nasceu da grande afinidade e amizade de cinco amigos que queriam fazer música juntos. O That’s All Folks foi um projeto elaborado por parte das pessoas que estão no Holger hoje, mas que contou com a participação de diversos amigos de diversas bandas, o que inclui a outra parte do Holger que não estava na mesa onde a idéia surgiu. Depois de diversos encontros e mais de 30 músicas gravadas alguém teve a idéia de transformar aquilo numa banda de verdade.

Acredito que logo no início da banda já rompemos muito com a influência folk que o TAF tinha. Muita gente classificava, e ainda classifica na real, o Holger como folk e derivados, mas eu vejo o Green Valley como uma obra muito mais voltada pro indie rock e pop. Hoje as principais influências mudaram e a idéia é sempre inovar nossa música com tudo o que ouvimos de novo, velho, pop, cabeçudo, dançante, etc.

O primeiro EP de vocês, o The Green Valley, teve uma boa repercussão na internet, principalmente, e levou vocês a diversos shows e festivais em São Paulo – e até mesmo no Canadá. Fale um pouco da gravação, da resposta do público e se o próximo lançamento tem semelhanças com este trabalho.

O processo de gravação do EP foi muito massa. Fomos convidados para gravar na Sala 222 por Sérgio Ugeda e Eduardo Ramos através de um simples e-mail informal, acredito que nenhuma das partes imaginava até onde aquele simples e-mail nos levaria. A gravação em si foi tranquila, gravávamos nos finais de semana, passávamos o dia inteiro lá, a base de pizza, cerveja, keep cooler e Big Dannys (sanduíche genial e gigante de uma padaria ali do lado). No final ficamos muito satisfeitos com as músicas e começamos o processo de divulgação e fomos pegos de surpresa com a resposta do público.

O Ep foi de fato muito bem aceito e elogiado. Conseguimos muita coisa com ele e soremos eternamente gratos ao EP, mas o próximo lançamento pretende ser mais elaborado e até pretensioso que o Green Valley. Tanto na parte de produção como na parte de composição.


Aproveitando, vocês estão gravando um novo EP? E um álbum, está nos planos do Holger? Qual será o caminho seguido nesses novos trabalhos?

Na verdade estamos em processo de composição e só. Não sabemos se será um EP ou um álbum. Independente do formato, queremos atingir algumas metas com o próximo lançamento, como conseguir uma boa gravação num estúdio foda, uma prensagem, boa divulgação e alguém que pague por isso, claro! Mas a idéia de um álbum pisca na cabeça de todos nós sem parar.

O Holger parece aproveitar bem a internet e as possibilidades proporcionadas por novas mídias. Pra vocês, a era “Pós-Myspace” alavancou a música independente apenas em quantidade de novas bandas e lançamentos, ou a qualidade também aumentou? Vivemos uma boa fase no rock brasileiro?

Olha, a internet é sem dúvidas a melhor plataforma inventada para se trabalhar música. Claro que estamos no meio do turbilhão econômico da coisa, precisamos de fato criar uma maneira de beneficiar todos os profissionais envolvidos na música que trabalharão on line. Mas o fato é, hoje, se você quiser ter uma banda, gravar suas canções e divulgá-las você não tem mais desculpa, a internet está ai pra isso. É verdade que essa democratização das mídias traz consigo uma tremenda parcela de lixo musical, mas, ao mesmo tempo, permitiu que bandas de diversos estados brasileiros se destacassem.

Hoje vemos um pessoal de Cuiabá, Goiânia, etc, tocando em grandes festivais nacionais e internacionais. E isso tudo faz com que o momento do rock brasileiro seja bom. Ainda falta muito para que a cena chegue a um ponto profissional decente, mas passamos por uma fase que dá esperanças.

Quais são as melhores bandas independentes, hoje, no Brasil?

Black Drawing Chalks, The Name, Macaco Bong, Boss In Drama, Garotas Suecas, Homiepie, Copacabana Club e Móveis.

Até pouco tempo atrás via o Holger bem atrelado à São Paulo – até naturalmente, por ser a casa de todos os integrantes -, mas as participações recentes em festivais por todo o Brasil e turnês internacionais, alavancaram a banda em território nacional. O que essa mudança está trazendo para o grupo e para os integrantes – além de horas e horas na estrada?

A coisa mais foda de viajar para tocar, além da viagem em si, é conhecer pessoas. Quando vamos para festivais a integração é muito massa. Encontrar gente que ama música e está nessa loucura com você é sempre confortante e divertido. Normalmente passamos um dia inteiro entre bandas de diversos estados e estilos e a troca é gigante, de experiências pessoais e profissionais.


Quase toda banda em início de carreira sonha em fazer shows internacionais. Vocês já tocaram no exterior algumas vezes. Falem das turnês no Canadá. Vocês já devem ser estrelas por lá, não?

Cara, tocar no Canadá foi uma missão de guerrilha! Haha. Tivemos muitos problemas com o nosso visto. Na real ele só saiu três horas antes do voo. Foi uma guerra mesmo, por isso eu acho que a viagem foi tão marcante, depois de todas as barreiras ultrapassadas chegamos lá e fizemos um puta show na noite de abertura do Pop Montreal (nome do festival que tocamos por lá). Esse show foi especial, tocamos na mesma festa que o Ninjasonik e o Matt & Kim, tava lotado e o público nos surpreendeu sendo, talvez, a melhor audiência que tivemos até hoje.

Tocamos outras duas vezes no festival e claro, aproveitamos a cultura e culinária local como se não houvesse amanhã! Engraçado você falar esse lance de estrelas por lá, acredita que alguém comentou para um de nós que se morássemos em Montreal nós já seríamos “grandes”!

Os shows do Holger são conhecimos pela "celebração musical". Que celebração é essa?

Acima de qualquer coisa somos amantes da música, o que nos torna mais público do que artista. Gostamos de cultivar essa figura de público, gostamos de ir a shows, festivais e festas e realmente fazer valer. E nós acreditamos muito que o show deve ser uma festa da banda com o público, que a barreira público/banda deve ser quebrada para que todos possam participar. Se não quiséssemos a participação efetiva do público ficaríamos no estúdio. Então fazemos de tudo para celebrar com aqueles que estão dispostos a celebrar com a gente. Por isso o que mais gostamos é de tocar em lugares que permitam um contato maior com a audiência.

Por fim, conte pra gente a história do Ursão, usado por vocês como mascote/logo da banda.

O Ursão foi um presente de uma amiga da banda. Todos gostaram muito do desenho e resolvemos que ele seria a capa do EP, a partir dai começamos, de brincadeira, a apelidar a banda de Ursão e de repente muita gente pegou e passou a se referir ao Holger como Ursão. Acho massa! Não sei por quanto tempo ele ainda vai simbolizar a banda, mas gostamos dele e até hoje tem gente que pede a volta do mosh do ursão, hahaha. Explico, um amigo nosso fez um Ursão de quase dois metros de altura de papelão, pra enfeitar o palco, ele ficava ali no fundo até que, de repente, lá estava ele no meio do público, pra lá e pra cá! Devido aos excessos da celebração ele se encontra um pouco destruído, mas quem sabe ele não volta!

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