segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Acervo de ícone do jornalismo econômico chega à Unicamp nesta semana

Eduardo Costa
Do Jornalismo em Posts

Quarenta e quatro anos de muito trabalho e suor no jornalismo serão entregues na quarta-feira para a Universidade Estadual de Campinas em mais de 50 arquivos, onde o
Cedae (Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio) terá a difícil missão de cuidar e preservar o material do jornalista paulista Aloysio Biondi (1936 - 2000), doado pela família que, por anos, cuidava particularmente com a ajuda de ex-alunos e amigos. O material guardado inclui recortes de jornal, pautas de redação, manuscritos, anotações e objetos pessoais que fizeram parte de sua vida. Muitos dos textos publicados pelo jornalista podem ser encontrados em seu site, que faz parte do projeto O Brasil de Aloysio Biondi.

Aloysio Biondi destacou-se na imprensa nacional por suas críticas ao modelo neoliberal, hegemônico na década de 1990 no país. Intelectual de esquerda, expôs em seu livro mais famoso, O Brasil privatizado (Fundação Perseu Abramo, 2000), argumentos críticos ao processo de venda das estatais, que, segundo ele, lesavam a nação. Biondi estará lado a lado com Monteiro Lobato, escritor muito admirado por ele, nos armários onde o Cedae guarda os arquivos.

Arquivo carrega herança de muitos anos de dedicação

Natural de Caconde, interior do Estado de São Paulo, Aloysio era uma pessoa simples que possuía um olhar crítico sobre o jornalismo, especialmente na área de economia, onde ele mais atuava. Seu filho Antônio Biondi, também jornalista, conta que uma das maiores heranças deixadas pelo pai foi exatamente ligado a esta área “Uma (herança), a de escrever sobre economia sem o uso do economês, tornando o texto e os temas acessíveis a todos, de um ministro a um sindicalista, de uma dona de casa ao executivo do banco.” contou Antônio.

E foi na economia que ele se consagrou, trabalhando para diversos jornais e revistas do país, entre eles no jornal Folha da Manhã (mais tarde Folha de São Paulo), Correio Braziliense, O Globo, revista Época, Gazeta Mercantil, Bundas, entre várias outras.

Os primeiros contatos realizados para chegada do acervo foram feitos por parte da família em abril de 2008, e após mais de um ano de trabalho e negociações, a chegada está marcada para quarta-feira, 7 de março. Antônio Biondi afirma que o principal fator que levou a família a doar o acervo foi pela conservação, e também explicou o porquê da escolha da Unicamp “A doação à Unicamp surgiu da necessidade, histórica e afetiva, de não deixarmos o arquivo do Biondi, seu legado, se perder. No interior da família, entre os amigos, e posteriormente entre os integrantes do projeto “O Brasil de Aloysio Biondi”, consolidou-se a perspectiva de que a doação deveria se dar prioritariamente para uma instituição pública.”

A supervisora de arquivos do Cedae, Flávia Leão, que se declara uma grande fã do estilo do jornalista, conta que, durante esse tempo de negociações, houve também toda uma preparação para a chegada. Entre as providências necessárias estava um novo sistema de arquivamento, que é feito em um armário que desliza sob trilhos, permitindo a compactação de espaço. “São 57 caixas, e precisávamos de toda uma estrutura pra receber o material. Eu imaginava que o acervo era muito menor do que ele é, ai começou toda uma batalha para a compra de um armário deslizante, próprio para guardar documentações”, conta.

A supervisora ainda explicou que, após a chegada do acervo, começa um trabalho lento e minucioso, de início com a limpeza e higienização, para não haver risco de contaminação, depois o material fica de quarentena, é catalogado e só aí vem o processo da microfilmagem para digitalização. Ainda não há uma previsão de quando o material estará disponível para pesquisas, mas Flávia Leão avisou que tudo será totalmente acessível ao público, qualquer pessoa poderá pesquisar.

Ouça Flávia Leão falando sobre o perfil de Aloysio:



Das antigas máquinas de escrever as panelas no fogo
Cozinheiro de mão cheia, sabia como ninguém preparar sopas e massas, também fazia moqueca, pimentão recheado e agradava a todos os gostos preparando 3 molhos diferentes. Grande parceiro nas viagens que fazia com os filhos. Os trabalhos durante a semana eram refletidos nos sábados e domingos, pois andava muitas vezes cansado. Sabia exatamente o que era a prioridade no ensino dos jovens Antônio e Pedro “Do que lembro, a maior atenção era à nossa conduta ética, no sentido de sermos gentis com as pessoas e honestos. Com relação à escola também não havia marcação cerrada, acho que nesse ponto nós nunca demos muita preocupação. Ele se incomodava, aí sim, quando embarcávamos em algum impulso consumista, de querer um tênis ou uma calça da marca x.” lembrou Pedro Biondi, que ainda conta que seu pai era fã de músicas trágicas, como de Maria Bethânia e Chico Buarque durante a ditadura, e Maysa. “E isso foi material para muitas cantorias, em que ele pilotava o piano, ou a amiga Irene Solano Vianna tocava violão. “Ne me quitte pas” era uma que não faltava nessas noitadas de música.”

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