segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um pólo teatral ao nosso alcance

Leandro Filippi

Numa agradável tarde de domingo acontecia no SESC Campinas a apresentação do espetáculo “Circo do só eu”, que arrancava risos de adultos e crianças que lotaram o espaço. Era o último dia de comemoração dos 10 anos do Barracão Teatro – grupo de Barão Geraldo.

Criado, dirigido e atuado por Esio Magalhães, que encarna o palhaço Zabobrim, a apresentação surgiu da experiência adquirida pelo ator numa passagem pela Argentina, onde trabalhou no circo do artista Chacovachi. E lá mesmo, nas ruas do país, o “Circo do só eu” começou a ser concebido, como explicou Tiche Vianna, fundadora do Barracão Teatro. “O Esio começou a reunir todo o repertório dele: mágicas, truques, malabares, as coisas que ele brinca. E começou a partir dessa relação (com a rua) a construir o espetáculo. Então ele construiu a matriz do espetáculo lá, com a rua argentina”. Feito isso, Esio voltou para o Brasil, e passou a dialogar com outras pessoas, que o ajudaram a chegar ao resultado final.

O “Circo do só eu” ilustra uma das fortes características do teatro feito em Barão Geraldo: é um teatro feito por atores, no sentido de que as faísca inicial das novas peças, normalmente surge da inspiração deles, como comentou o ator do Lume, Ricardo Puccetti. “Eu acho que é uma coisa comum a todos os grupos, então de certo modo a produção desses grupos - os espetáculos -, vem muito da inquietação desses atores”, e conclui: “essa coisa da investigação do trabalho do ator, eu acho que é característica de Barão e que a gente vê isso pelo Brasil, muito em conseqüência de pessoas que tiveram contato com a gente aqui, e que depois trabalham com essa mentalidade”.

Outra peculiaridade é a cooperação entre os grupos. A atriz Alice Possani, do grupo Matula, exemplificou como isso acontece. “Essas parcerias que acontecem entre vários grupos se dão nas questões artísticas e materiais: desde a criação de espetáculos, orientações de trabalhos, até empréstimo ou aluguel de equipamentos e estruturas que cada um necessita”. Mais do que uma peculiaridade do teatro feito em Barão Geraldo, esse intercâmbio entre os grupos é um grande diferencial, como disse Ricardo Puccetti. “Quando a gente conta isso fora do país, ou em festivais pelo Brasil, todo mundo fica meio abismado, porque o mais comum na nossa classe é a competição mesmo”.

O desenvolvimento do teatro em Barão

Tiche Vianna destaca o crescimento do ambiente cultural de Barão Geraldo, que criou um local propício também para o teatro. “Com o desenvolvimento da cidade, muita gente que vinha estudar e saía, começou a ficar”. Nesse contexto favorável, os grupos de teatro começaram a surgir e se estabelecer, principalmente nos últimos 10 anos.

E na última década, segundo Alice Possani, o teatro de Barão Geraldo realmente floresceu. “Comparando o panorama teatral de Barão com o que tínhamos aqui nove anos atrás, é possível sim detectar mudanças. Acho que todas estão ligadas de alguma maneira ao aumento da quantidade de artistas que optaram por permanecer ou mudar para cá, em busca de uma alternativa ao teatro que se faz no eixo Rio-São Paulo. Os grupos que se fixaram aqui há mais tempo são referências para muitos artistas que vêm buscar orientações, cursos e referências nos trabalhos daqui”.

O melhor exemplo disso, acontece todo mês de fevereiro, data do Festival Internacional de Teatro de Campinas, que surgiu para ampliar um intercâmbio artístico que já ocorria, graças aos workshops oferecidos pelo Lume e pelo Barracão Teatro. O Feverestival, hoje, atrai amantes e profissionais de teatro do Brasil e do mundo.

Falta espaço para apresentações?

Os grupos estão fixados, produzindo e o teatro feito em Barão Geraldo, em geral, alcançou um nível respeitável. Mas e os espaços para apresentações, estão em falta? Para Lily Curcio, do grupo Seres de Luz, sim. “Barão precisa um lugar ou vários, um marco de referência onde a população saiba que sempre tem teatro, que todos os finais de semana poderá assistir, que poderá levar seus filhos para ver um espetáculo infantil de qualidade. Espaços públicos e comunitários destinados a mostrar e compartilhar a arte teatral de Barão”.

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