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São poucas as bandas que podemos descrever, com segurança, com o adjetivo “original”. Sair do comum, inovar, é um trabalho que exige uma criatividade acima da média, uma vontade de fugir do que já foi feito. No primeiro álbum o Charme Chulo conseguiu tudo isso, e, agora, com o recém lançado "Nova Onda Caipira", a banda confirma sua autenticidade.
Imagine algo aparentemente pouco provável: um rock onde o instumento que o norteia é uma viola. É assim que o Charme Chulo surpreende aqueles que ouvem suas músicas pela primeira vez, fazendo um rock dançante em que um instrumento que só é imaginado na música caipira ganha força e uma sonoridade pouco comum.
Charme Chulo é Leandro Delmonico (viola caipira e guitarra), Igor Filus (vocal), Rony Jimenez (bateria) e Marano (baixo). O quarteto tocou em Campinas, no último dia 19. E mais: lançou seu novo cd, “Nova Onda Caipira”. Para ouvir, é só acessar o MySpace do Charme Chulo.
O novo álbum teve participação na produção de Alexei Leão. Carlos Eduardo Miranda, que já produziu bandas como Cansei de Ser Sexy e Cordel do Fogo Encantado também contribuiu, possibilitando a gravação de parte do novo disco do Charme Chulo na Toca do Bandido, um dos estúdios mais requisitados entre as bandas de rock do país.
Confira a entrevista, respondida por Leandro e Igor.
Como surgiu a ideia de fazer rock com uma inserção tão presente de viola?
Leandro: O Igor tocava comigo numa banda de garagem (literalmente). Na época tínhamos influencia de punk e pós punk, algo que não nos abandonou até hoje, só que chegou o dia em que decidimos levar mais a sério o nosso som, a nossa intenção era fazer algo o mais real e próximo da gente possível, para poder evoluir e construir uma carreira. Nós somos do Paraná e percebemos que assim como São Paulo ou Minas gerais a presença da música caipira/sertaneja é muito forte, logo passamos a olhar mais para isso. A partir daí descobrimos a genialidade de Tião Carreiro, a versatilidade de Almir Sater e porque não, o brega de Leandro & Leonardo. Misturamos isso com The Clash, The Smiths e R.E.M e deu no começo da banda.
Uma das banda que é usada para descrever o som do Charme Chulo, é o The Smiths. Mas, afinal, quais são os artistas que inspiram a banda a fazer um trabalho tão original?
Leandro: No começo o The Smiths era forte, mas isso na época do nosso EP, na verdade o lado pós-punk da banda tem muito a ver com as letras, lembro que o Igor falava que o principal sentido dele estar numa banda era poder se expressar nas letras. Diria que a música caipira é o centro das coisas, no resto somos uma banda de influencias variadas, o Rony gosta muito de Rockabilly e Folk, por exemplo, eu sempre curti anos 80 e bandas atuais como: The Killers e The Thrills, já o Igor vai de Ramones a Sinead o`Connor , apesar disso temos algo forte em comum que e a paixão por uma música catártica, sincera e emotiva.
Rock e música caipira são estilos que tem uma relação quase conflitante. Em geral, fãs do rock torcem o nariz pra moda de viola e o contrário também é verdadeiro. Quando vocês nem tinham gravado as primeiras músicas ainda, e falavam sobre a ideia musical do Charme Chulo, qual era a reação das pessoas? E entre vocês, depois de compor as primeiras músicas, a sensação era de que aquilo podia dar certo mesmo ou foi uma grande aposta?
Leandro: Quando descobrimos a possibilidade de misturar os dois gêneros ficamos muito contentes, tanto que nem pensamos direito no que as pessoas iriam achar. O fato é que achávamos aquilo real, o grande lance era chocar ao contrario, mostrando da onde realmente veio tudo, depois de um tempo comecei a pensar que a música caipira é o nosso folk e que deveríamos nos orgulhar disso como os americanos roqueiros se orgulham de Bob Dylan e Johnny Cash, acontece que a elite acha a música de raiz constrangedora, dificilmente vemos um artista como o Tinoco sendo homenageado num premio Multishow da vida.
Quando fizemos as primeiras músicas a sensação era de que estávamos no caminho certo, aprendemos muitas coisas com o passar do tempo mas estamos ai, no segundo disco oficial da banda.
Qual foi a primeira música da banda, que abriu o caminho pro “rock caipira”?
Leandro: O Igor compôs no violão “Polaca Azeda”, a música que a gente mais gravou na vida e uma das preferidas do público. A vontade era fazer um pagode de viola, ela tem uma introdução clássica mas no final das contas virou uma música pop de bateria country e alguns elementos caipiras, mas aquilo era o começo. Hoje temos no segundo disco uma música chamada “Brasil Sacanagem”, ela demonstra uma evolução do que queríamos fazer lá começo, mesmo sendo uma canção simples.
Como tem sido o lançamento do “Nova Onda Caipira”?
Leandro: Nova onda caipira vem sendo lançado aos poucos, fizemos algumas cópias especiais para a imprensa e colocamos o disco inteiro (de 11 faixas) para ouvir no myspace da banda, nosso show de Campinas já pode ser considerado “show de lançamento” o problema é que as primeiras 1000 copias deram uma pequena atrasada e só devem chegar no começo de outubro, esse foi o principal motivo da gente colocar tudo na net para ouvir, resumindo o lançamento está acontecendo nesse exato momento.
A primeira faixa que vocês liberaram do novo álbum, “Fala comigo, Barnabé!”, caberia perfeitamente no primeiro cd da banda. O que os fãs podem esperar do novo trabalho? Vai seguir a mesma linha do anterior?
Leandro: “Nova onda caipira” é um disco mais resolvido, nele conseguimos expressar melhor a mistura que a banda faz, “Fala comigo Barnabé!” é o lado Pop do disco, só que a primeira faixa é uma moda de viola por exemplo, usei mais violão no disco, o que deixou tudo mais homogêneo, apesar disso o CD não chega a chocar, é o mesmo Charme Chulo com o caipira mais aflorado.
Como é o processo de criação do Charme Chulo? Vocês compõem as letras primeiro? Começam uma nova faixa a partir de uma inspiração? Como funciona?
Igor: As músicas do Charme Chulo surgem muito a partir de imagens, de títulos e de temas ou assuntos que combinam com o universo artístico e estético da banda. Geralmente o Leandro compõe uma harmonia ou um rife, seja na viola ou na guitarra, daí desenvolvemos um pouco o instrumental com a banda, já aparecendo mais a cara da música, e em cima disso, por fim, crio a melodia e a letra. Em outros casos eu ou o Leandro fazemos músicas e letras inteiras sozinhos, mas como o universo do Charme Chulo é bem definido, nós dois assinamos a autoria de todas as músicas juntos.
Os integrantes do Charme Chulo tem alguma atividade ligada à música, fora a banda?
Igor: Eu e o Leandro produzimos e tocamos apenas no Charme Chulo desde de o início de nossas carreiras musicais, apenas o Rony, baterista, toca em outras duas bandas de punk rock estilo 1977, chamadas Subproduto e UTI.
Indiquem algumas bandas independentes brasileiras que vocês gostam.
Fast Food Brasil (Sorocaba), Os Pamonheiros (Piracicaba, outra banda da cena do rock caipira) e Dimitri Pellz (Campo Grande).
CONFIRA UM TRECHO DA APRESENTAÇÃO QUE O CHARME CHULO FEZ EM CAMPINAS
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